A coleção de Mary Design tem como objeto de estudo o tropicalismo. O resultado é uma coleção propositalmente colorida, pop, como uma bandeira à alegria, tão cantada na música–protesto do Caetano e tão incorporada ao espírito do povo brasileiro.
A cultura hippie característica dos jovens irreverentes dessa época, foi lembrada e reconstruída. O resgate de padrões das bijus usadas, procurando dar a elas uma nova roupagem, livrando-as do pré-conceito. A pena de pavão, quase um ícone hipongo, veio metalizada. Os conhecidos brincos, tramados na mola com linhas multicores, ganharam contornos de seda e formas visuais novas, psicodélicas. A massa Fimo, tão explorada em feiras populares, ganha contornos metálicos em formas diferenciadas. Cordões de uso cotidiano, brincam alegremente de formas circulares em combinações de cores não usuais. Colchas de retalho são referência para composição de flores e a flora do cerrado serve de inspiração para a série, onde um verdadeiro jardim de cetim colorido brota em colares. Sementes ganham coloridos novos e se dependuram em fibras naturais como suporte. A jabuticabeira é referência na construção de colares onde o verde da fruta se mescla a algumas amadurecendo, nos lembrando que a natureza é sempre nosso maior espelho.
Mais do que nunca, como os tropicalistas fizeram, situando a cultura brasileira num contexto mundial, é preciso pensar na perspectiva universal, sem abdicar da cultura nacional. Em recente congresso joalheiro, consultores internacionais falaram sobre os possíveis caminhos que os designers brasileiros deveriam trilhar. Um deles era o do sol e o da alegria, tão relacionados à nossa imagem. O outro era que eles deveriam ser menos étnicos ao criar, se quiséssem continuar exportando nosso design. Os tropicalistas já sabiam disso.
Pensar que o tempo que hoje corre tão freneticamente, nos dista desta época revolucionária há apenas algumas décadas, como se fossem milhões de anos, não nos deixa acreditar que a tão falada revolução sexual é relativamente nova, também da década de 60. Em homenagem à pílula que libertou o sexo da procriação, Mary criou o colar maçã, ironicamente mordido. Deliciosamente alegre!
Além de maçãs, ela nos lembra que nós temos bananas.
